Na opinião de 83,2% dos 110 supermercadistas ouvidos por SA Varejo, o faturamento no Natal e Ano-Novo será maior ou igual ao do ano passado
Há todo um cenário macroeconômico, de mudança do consumidor e até de acontecimentos históricos, que favorecem as vendas de Natal e do Ano-Novo nos super, hipermercados e atacarejos. Mas é preciso planejar certo para não repetir a Páscoa, quando o aumento da demanda pegou o varejista de surpresa.
O pano de fundo da pandemia fará com que este fim de ano seja inédito para os super, hipermercados e atacarejos. O cenário que se desenha é complexo e exige análise, planejamento e execução acurados por parte do varejista. Mas, de maneira geral, as vendas do setor deverão ser favorecidas. É o que aponta uma sondagem realizada por SA Varejo com cerca de 110 varejistas das maiores redes do País. Nada menos do que 83,2% acreditam que o faturamento no Natal e Ano-Novo será maior ou igual ao do ano passado. Entre os 59,8% que apontaram alta nas vendas, a média esperada é de 11,7% sobre o mesmo período de 2019.
A paranaense Condor é uma das redes que esperam crescimento nas vendas. A expectativa é de um aumento de 15% no período, segundo Pedro Joanir Zonta, presidente da empresa, que participou da 18ª edição do Webinar Series , realizado por SA Varejo em 4 de setembro.
Já a fabricante Vale Fértil espera um aumento de 30% no período. Entre as novidades, estão a linha de azeites de oliva 100% própria, que terá campanha de divulgação, os snacks e as azeitonas temperadas pretas e verdes mistas embaladas a vácuo, além da bandeja promocional com sachês de três unidades de 60 g.
Outro dado da sondagem de SA Varejo é que, para 84,4% dos varejistas otimistas com as vendas nas Festas, a Covid-19 contribuirá para o avanço. Isso porque a pandemia acelerou hábitos e fez com que o consumidor reaprendesse sua vida dentro de casa. Mas esse é apenas um lado dos acontecimentos. Para entender o que vem por aí, há muito mais a ser observado, e é isso o que mostramos a você a seguir. Acompanhe.
CENARIO DO FIM DE ANO
Em sua participação no 18º Webinar de SA Varejo, Sidney Manzaro, VP de mercado Brasil da BRF , fez um resumo dos fatores que devem influenciar o consumo neste fim de ano. Segundo o executivo:
- Existem aspectos que estão claros e outros que ainda geram dúvidas. Por exemplo: a produção da indústria, em geral, já está definida. No caso dos produtos específicos da data comercializados pela BRF, a estratégia é desenhada logo no início do ano
- No âmbito macroeconômico, o PIB (Produto Interno Bruto) vai cair e afetar renda e emprego. A ajuda de R$ 600 reais do governo, que tem contribuído para aliviar as dificuldades do momento, tende a diminuir
- Em contrapartida, muitas viagens que seriam realizadas no período, sobretudo para o exterior, não deverão acontecer. “Isso pode estimular o gasto no mercado interno, compensando em parte a queda na renda”, avalia Manzaro. “A despesa com uma ceia melhor, que tenha 3 ou 4 tipos diferentes de proteínas, é relativamente bem inferior ao valor que as pessoas gastam ao viajar”, acrescenta o VP de mercado interno da BRF
- O consumo de alimentos nas Festas também tende a ser maior, uma vez que a data emendará com o fim de semana. Aliado ao fato de as pessoas estarem em casa e de que não estarão realizando home office em função do feriado prolongado, os consumidores irão fazer mais refeições no período
- Outro fator que pode ajudar na confiança do consumidor é o anúncio de uma vacina. As indústrias, como a BRF, ainda não consideram essa uma possibilidade concreta para o fim do ano, mas a proximidade do anúncio pode renovar as esperanças. “Temos buscado a ajuda de antropólogos e sociólogos para entender o impacto da doença na vida das pessoas. Um dos fatos históricos é que, após a Gripe Espanhola, houve uma euforia de consumo grande”, explica Manzaro. A pandemia citada pelo executivo aconteceu em torno dos anos 1918 e 1920 e infectou cerca de ¼ da população mundial da época
PLANEJAMENTO E MAIOR DESAFIO
Entender a demanda será um dos maiores desafios do período. Há uma preocupação adicional com a previsão de vendas para evitar ser pego desprevenido, como aconteceu na Páscoa, quando o cenário inicial da pandemia dificultou uma estimativa. Além disso, os consumidores se anteciparam, fazendo com que os ovos de chocolate acabassem na semana anterior à data. “Com isso, muitos varejistas ficaram sem ter o produto”, lembra Zonta, do Condor. A ideia é evitar que isso se repita com itens como as carnes especiais (veja matéria sobre a categoria nesta edição). “Se, por exemplo, elas acabarem no dia 20, também não vai ter onde comprar”, explica. Zonta acredita que o bom relacionamento e o trabalho conjunto com os fornecedores são necessários para o varejo se planejar da maneira mais adequada possível à demanda no período.
ITENS DE MAIOR VALOR AGREGADO
Superintendente comercial e de marketing do Verdemar (MG), Antonio Celso Azevedo, que também participou do 18º Webinar de SA Varejo, acredita que os consumidores buscarão produtos de melhor qualidade para comemorações que tendem a ser mais intimistas. E isso passa, por exemplo, por cervejas de maior valor e vinhos importados. “Trazemos mercadorias de 23 países e, em março, já negociamos os produtos de fora para o Natal. Não temos tido problemas de recebimento”, diz Azevedo. Segundo ele, o relacionamento com a indústria tem sido muito bom. “Tenho procurado muitas delas para entender como está sendo o comportamento de consumo em outros países a fim de nos anteciparmos”, conta.
COLABORAÇÃO NUNCA FOI TAO ESSENCIAL
Quem concorda sobre a importância do bom planejamento e da colaboração é Caio Lira, VP de canal off trade da Ambev . “De outubro em diante é o período que consideramos de sazonalidade. Mas, neste ano, experimentamos em junho e julho taxas de vendas no varejo iguais às do fim do ano e maiores do que as da última Copa do Mundo e também do que as do Brasil, em 2014”, conta. Segundo o executivo, os insumos são a maior preocupação neste momento, especialmente no caso das latas, pois existem poucos produtores de alumínio globais. Para reduzir o problema, a Ambev inaugurou recentemente uma unidade totalmente dedicada à produção de latas – a primeira do Brasil, de acordo com Lira. “Evidentemente ainda demora um pouco para a fábrica atingir sua capacidade, o que deve acontecer provavelmente em janeiro do ano que vem”, esclarece. Além disso, a fabricante de cervejas está ampliando cinco novas linhas de produção.
O VP de canal off trade conta ainda que, neste ano, a Ambev antecipou para setembro o início do JBP (Joint Business Plan) com os clientes. “A ideia é discutir 2021 colocando na mesa o que estamos aprendendo com a abordagem da Covid-19. Mesmo com a crise, vemos uma luz positiva no fim do túnel e queremos levar insights importantes para o varejo. Hoje, nosso time cobre o Brasil todo a partir de sete regionais ligadas à minha estrutura. Nosso objetivo é ajudar o varejista a agregar valor e a elevar faturamento”, ressalta Lira.
Fonte: SA Varejo