Quem aponta os principais pilares atuais para isso são conselheiros que carregam a experiência de importantes redes varejistas e indústrias de bens de consumo
“Hoje existe sim um problema, mas a empresa tem que andar para a frente.” A mensagem, clara e direta, é de José Barral, presidente do Conselho de Administração do Lopes Supermercados , 30 lojas no Estado de São Paulo, que participou da 10ª edição do Webinar Series , realizado em junho por SA Varejo. O encontro online contou ainda com a participação de Gilberto Xandó, membro do Conselho de Administração Global da JBS , e de Silvio Meira, do Conselho de Administração do Magazine Luiza .
Os três conselheiros, que também trazem na bagagem a experiência de outras empresas em que atuam, concordam que a crise da Covid-19 impõe desafios inéditos às empresas. “No entanto, é necessário ter uma agenda de médio prazo com foco no futuro do negócio”, afirma Xandó, que comandou durante nove anos a Vigor Alimentos. Para esses especialistas, há quatro prioridades sob as quais as empresas precisam trabalhar neste momento a fim de se fortalecer para os desafios que estão surgindo: combate à ruptura, sortimento, pessoas e entendimento do novo consumidor ( clique aqui para ler matéria específica sobre o tema ).
Bem trabalhados, esses quatro pilares resultam num bom atendimento, alinhado às novas e reais necessidades do shopper. Entre outros pontos, isso inclui:
- Fazer uma compra rápida e segura, sem precisar ir a muitos pontos de venda
- Ter soluções para os novos momentos de consumo, que surgiram a partir da pandemia
- Oferecer opções de indulgência para aliviar o estresse emocional do momento
- Disponibilizar itens que caibam no bolso do consumidor diante das dificuldades econômicas que começam a surgir
“O varejo tem um papel fundamental: saber dialogar com a indústria, que, por sua vez, precisa conhecer mais sobre o que o consumidor de cada um dos seus clientes quer”.
JOSÉ BARRAL
Presidente do Conselho de Administração do Lopes Supermercados, Coordenador do Conselho da Hope Lingerie , e Membro dos Conselhos da Pif Paf Alimentos , Bebidas Poty , Carta Fabril , Embalagens Flexíveis Diadema e DMCard
01- Combate a ruptura
Assim como a maioria dos problemas a ser enfrentados pelo varejo, a ruptura sempre esteve presente, mas foi intensificada após a crise do novo coronavírus. Num momento em que o consumidor tem ido a menos lojas e com menor frequência, deixar de oferecer o que ele busca é um tiro no pé. Além disso, é difícil entender por que o cenário se agrava se considerarmos toda a tecnologia disponível para combater a ausência de mercadorias.
“Esse tipo de situação acontece porque ainda não se conseguiu codificar a cadeia de valor inteira, conceito que se refere a algo que vai além da existência de elos e consiste em uma malha que executa mais funções e tem mais pontos de troca e de interação. Ao entendê-la, é possível saber o que as pessoas precisam, quanto e quando precisam, fazendo com que a conta feche para todo mundo”
Quem faz a análise acima é Silvio Meira, que, além de participar do Conselho do Magazine Luiza, também é Strategineer da TDS.company.
O uso de ferramentas para garantir a presença dos produtos nas gôndolas também é apoiado por José Barral.
“Digitalização não é apenas criar uma inovação associada a um produto ou algo inédito. É também utilizar a tecnologia para tornar a empresa mais eficiente e produtiva”, diz ele.
A falta de produtos se agravou na pandemia
15,5% índice de ruptura atingido no dia 15 de julho 11,8% índice de ruptura no dia 23 de março
Fonte: Neogrid
02- Sortimento
Para Gilberto Xandó, ter o mix adequado para cada loja é fundamental. “Isso, entretanto, exige conhecer quem é o novo consumidor, como ele está se comportando e como as lojas conseguem tratar isso”, reforça o conselheiro. Segundo ele, é preciso considerar que daqui a quatro ou cinco meses haverá aceleração do desemprego em todo o mundo, porém de forma mais acentuada no Brasil.
“É importante lembrar que muitas indústrias já estão revendo seu portfólio e suas inovações globalmente”, enfatiza Xandó.
A esses desafios soma-se outro, também de longa data.
“No Brasil, uma das coisas que causam receio do varejo e dos fornecedores é diminuir o sortimento”, comenta José Barral.
Apesar da resistência, isso poderá ser necessário em diversas categorias. Já outras, que demonstrarem avanço consistente, poderão ir pelo caminho inverso. Para saber como agir em cada uma, é preciso mergulhar em dados. É o que está fazendo o Lopes Supermercados, com 30 lojas no Estado de São Paulo. Lá, a garimpagem das informações do cliente identificou, por exemplo, que consumidores de filiais localizadas na periferia da capital paulista são os que mais compram pelo aplicativo iFood. O que quebra um paradigma de que o serviço de delivery tem adesão apenas nas classes A e B.
“Este é o momento de permitir às pessoas cometerem erros. é uma frase antiga, mas erros novos levam a novos aprendizados. é necessário ainda conferir ao processo decisório maior agilidade. não é hora de fazer muita planilha, muita conta ou muito powerpoint”
GILBERTO XANDÓ
Membro do Conselho de Administração Global da JBS, do Conselho da BenCorp e Grupasso, além de membro da YPO Organization
“Na transformação digital, a palavra digital deveria vir escrita pequena e transformação, grande. não adianta só comprar tecnologia, isso é quase suicida. a ideia de transformar consiste em refundar as bases de um negócio a partir de estruturas e serviços digitais”
SILVIO MEIRA
Strategineer da TDS.company e Membro do Conselho de Administração da Magalu
03- Pessoas
Transmitir segurança para a equipe, entender o lado humano das pessoas e observar aquelas que vêm se destacando nesse período são alguns passos essenciais para as empresas de varejo.
“É preciso fazer a gestão dos talentos e ter um processo de retenção mais robusto”, afirma Xandó.
Um aspecto que vai ser crítico no atual contexto é a adaptação do time ao digital. “Se as pessoas não estiverem preparadas não adianta achar que a tecnologia vai resolver tudo”, avalia José Barral. Ele lembra que o uso de ferramentas está sendo feito, inclusive, para preparar as equipes. O Lopes, por exemplo, utiliza um aplicativo – o Niduu – para treinamento de todo o time.
A aceleração da digitalização também está mudando a busca por bons profissionais. Se antes a seleção ficava restrita geograficamente, hoje, com a disseminação do uso de plataformas de videoconferência, é possível entrevistar pessoas de qualquer local. “Isso vai aumentar muito a competição pelos melhores talentos”, comenta Xandó.
Já para Barral, outro ponto que as empresas precisam considerar é buscar não apenas profissionais que pensam igual aos gestores da companhia. Mas também que sejam questionadores. “É importante ter pessoas que ajudem a companhia a ser mais autocrítica e a pensar diferente”, conclui o presidente do Conselho do Lopes.
Fonte: SA Varejo