Liquidez financeira, bom clima organizacional, e-commerce e adoção de boas práticas de gestão ajudam empresas a se recuperarem mais rápido
A pandemia do novo coronavírus afetou diretamente todas as empresas no país. Em alguns poucos setores, a crise trouxe mais oportunidades do que problemas. No entanto, de forma geral, os reflexos negativos se acentuaram.
Diante desse cenário, gestores já se concentram em buscar estratégias para que as empresas saiam, se não mais fortalecidas, menos enfraquecidas da crise provocada pela covid-19.
Mas, quais empreendimentos têm chances de se recuperarem mais rapidamente? E quais medidas devem adotar?
Para responder a essas e outras questões, o Diário do Comércio conversou com Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), e com o especialista em reestruturação de empresas Fábio Astrauskas, CEO da Siegen Consultoria.
De acordo com Terra, antes de qualquer análise é preciso dividir o varejo em três grupos que estão passando por realidades completamente distintas: o varejo essencial – supermercados, farmácias e pet shops – cujas vendas aumentaram durante a pandemia; o varejo de e-commerce, também em crescimento; além do varejo não essencial, o maior prejudicado, como as lojas físicas de rua ou shoppings.
LIQUIDEZ FINANCEIRA
Os especialistas concordam que, em um primeiro momento, as empresas com possibilidades de se recuperarem mais rápido são aquelas com liquidez financeira, ou seja, que dispõem de recursos em caixa durante o período de pandemia.
“As empresas que ao longo da crise fizeram uma leitura da gravidade da restrição de caixa e conseguiram boas alternativas de financiamento, crédito e renegociação de contratos, largarão na frente”, afirma o CEO da Siegen.
Astrauskas recomenda que, no momento, as empresas prorroguem seus vencimentos até terem condições de liquidar ou girar o capital empregado com duplicatas, além de negociarem junto aos Fundos os regressos de forma parcelada dos recebíveis que não terão liquidez, de forma a não afetarem o caixa.
Da mesma forma, aconselha vender para clientes com menor chance de inadimplência, focar em vendas à vista para pequenas empresas, e também priorizar produtos de alto giro e que possuem melhor margem de contribuição, garantindo giro de estoque e redução de custos.
BOM CLIMA ORGANIZACIONAL
Outro fator fundamental para uma boa retomada das atividades no período pós-pandemia, na opinião dos especialistas, é a manutenção de um bom clima organizacional nas empresas.
“Nesse momento, os empresários, além de líderes, devem cuidar de seus times tanto do ponto de vista sanitário, quanto do ponto de vista motivacional, já que são esses funcionários quem vão tirar as empresas da crise”, ressalta Terra. “Assim, se essas equipes estiverem debilitadas, desanimadas e desmotivadas, elas não tirarão as empresas da crise”, completa.
O mesmo ponto de vista é compartilhado por Astrauskas. Para ele, no momento atual de incertezas é desejável que as empresas montem “comitês de crise”, dos quais devem participar os executivos e seus principais assessores.
“Todos os esforços devem estar voltados para a preservação dos empregos. Um bom clima organizacional sustentado pela confiança, transparência e pelo cuidado com as pessoas, será a maior de todas as forças propulsoras para as empresas na saída da crise”, afirma o CEO da Siegen.
INVESTIMENTO EM CANAIS DIGITAIS
As empresas que estão investindo e conseguirem se fortalecer no e-commerce ganharão mais destaque na retomada dos negócios. De acordo com o presidente da SBVC, “enquanto não tivermos a normalidade necessária, que vai muito além do período de quarentena, as pessoas terão medo de sair às ruas. Então quem não possuir uma estratégia consistente para chegar ao consumidor utilizando canais digitais, dificilmente terá sucesso”.
Para Astrauskas, o comércio não essencial que está com as portas fechadas deve investir em serviços de delivery e canais de vendas on-line. Se a empresa nunca esteve nestes canais e não tem recursos para investir, outra possibilidade é buscar parceiros, clientes e às vezes até concorrentes que possam vender seus produtos pela internet.
O CEO da Siegen entende que a sociedade, com a pandemia, está mudando sua forma de pensar e seus hábitos, e que o e-commerce, o home office, o delivery e a maneira mais distanciada das pessoas se relacionarem irão se incorporar rapidamente no dia a dia de todos.
“Ninguém estava preparado para essa crise. No entanto, os gestores aprendem rápido e têm se adaptado rapidamente a essa nova configuração. No futuro, o desempenho de um empreendimento dependerá muito da nova configuração da sociedade. Mobilidade, lazer, trabalho remoto, saúde e protecionismo serão palavras-chave para entender as empresas de sucesso”, explica.
BOAS PRÁTICAS
A situação atual de pandemia, na visão de Eduardo Terra, é o maior teste pelo qual as lideranças e os empresários já passaram até hoje. Diante disso, eles devem ficar atentos às mudanças dos hábitos dos consumidores.
Segundo ele, em um momento de pandemia as pessoas ficam mais frágeis e sensíveis, ou até menos racionais. Portanto, a forma como elas se relacionam com tudo, inclusive com as marcas, muda bastante.
“Nesse sentido, empresas que se comprometem a não demitir funcionários, que farão doações, entre outras boas práticas, têm conseguido estabelecer uma conexão diferente com as pessoas”, diz. “Isso contará para que a memória sobre determinadas marcas seja positiva ou não. As empresas têm que administrar o caos, mas ao mesmo tempo pensar no dia de amanhã”, afirma o presidente da SBVC.
O CEO da Siegen ressalta que o fortalecimento da imagem institucional será difícil de ser mensurado, no entanto “ações de preservação do emprego, por exemplo, mostram bastante o caráter dos empresários e a forma deles se comportarem em uma situação de crise”.
Astrauskas ainda salienta que, nesse momento, os empresários devem ao máximo manterem-se atualizados sobre as decisões do governo, a fim de evitarem pagamentos que foram ou estejam em discussão de suspensão ou prorrogação.
Fonte: Diário do Comércio