Muito mais que a preocupação com a saúde da população e a manutenção da profissão dos farmacêuticos, a posição contrária à venda de Medicamentos Isentos de Prescrição Médica (MIPs) esconde uma vantagem comercial competitiva das farmácias que não se justifica. A população paga essa conta sem saber!
Esqueça os argumentos de que a venda de MIPs por supermercados poderá aumentar os índices de intoxicação por medicamentos. Como se não bastasse o fato dos MIPs serem extremamente seguros para ter sua venda liberada sem a prescrição médica, ou qualquer restrição de acesso nas gôndolas das farmácias, levantamento do Centro de Assistência Toxicológica do Hospital das Clínicas/SP não demonstrou aumento nos dados durante o período em que estes medicamentos foram comercializados pelos supermercados entre 1994 e 1995.
Como consequência disso, também é falsa a afirmação de que a livre comercialização destes medicamentos por supermercados irá aumentar o atendimento no Sistema Público de Saúde. Muito pelo contrário! A Organização Mundial de Saúde informa que os países que facilitam o acesso a estes medicamentos possuem melhores resultados no atendimento médico, já que este conseguem priorizar a assistência aos casos graves.
É leviana a afirmação de que os supermercados querem acabar com a função dos farmacêuticos. Segundo dados do próprio Conselho Federal de Farmácias, existem estados e municípios onde existem mais farmácias do que farmacêuticos. É o caso do Piauí! Isso significa dizer que há uma demanda de mão de obra qualificada reprimida e, por consequência, que a população desses locais está sem acesso a qualquer medicamento ou está comprando-os sem qualquer assistência por profissional capacitado. Ou seja, se precisar de um paracetamol para diminuir a febre de uma criança vai depender da vontade de algum vizinho amigo, já que a farmácia estará fechada ou não existirá no local. Ah, é claro, ele pode comprar pela internet ou pedir pelo aplicativo, isso tudo com pleno controle do farmacêutico!
Na verdade, caro leitor, o que as farmácias e os farmacêuticos escondem da população é que o mercado de medicamentos é muito rentável, com margens que superam os 40%, como demonstram os preços de referência do Ministério da Saúde, e que a limitação legal para abertura da venda dos MIPs é uma importante barreira para os supermercados, garantindo-se as margens e as condições existentes. Ou será que países desenvolvidos e com maior liberdade econômica para comercialização dos MIPs, como Estados Unidos e Inglaterra, estão colocando em risco a saúde de sua população e aumentando os gastos com a saúde?